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Preservação se faz com planejamento

A partir de um Programa de Manejo Integrado do Fogo, a Brigada Aliança tem realizado um constante e intenso trabalho de prevenção a incêndios no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, um dos sítios geológicos mais importantes do Brasil. Mas ainda há muito o que fazer


A cerca de 180 quilômetros ao sul de Goiânia (GO) está localizado um dos mais importantes centros de preservação ambiental do Cerrado brasileiro. Criado em 1970, o Parque Estadual da Serra de Caldas Novas (PESCaN) tem como principal função conservar a flora, a fauna e as belezas naturais da região, além de ser essencial para a recarga dos aquíferos que abastecem Caldas Novas, Rio Quente e Marzagão, os três municípios abrangidos por seus mais de 12 mil hectares de área. Tamanha relevância demanda também uma proteção adequada quanto aos riscos de queimadas.


É por isso que, desde 2019, a Brigada Aliança da Terra tem atuado no parque, realizando treinamentos de voluntários, implementando ações estratégicas de prevenção e monitoramento e, quando necessário, realizando uma resposta rápida e qualificada para impedir que o fogo avance no parque. Só em 2022, a equipe da Brigada Aliança registrou 22 ações de combate ao fogo, dentro e no entorno do PESCaN. Graças a esse trabalho, esses episódios foram limitados.


No entanto, sem uma resposta rápida e qualificada, o resultado poderia ter sido muito diferente. Apesar de na última década não terem sido registrados grandes incêndios no interior do parque, no passado o fogo era recorrente no PESCaN. Alguns funcionários e ex-funcionários relatam episódios dramáticos vividos no parque, como é o caso do incêndio ocorrido no ano de 2008, quando quase 90% do parque foi consumido pelas chamas.


Para evitar que episódios como esse se repitam no futuro, é necessário estar estrategicamente preparado. Com o objetivo de avançar em relação a todo o trabalho que estava sendo desenvolvido nos últimos anos, no início de 2023 a Brigada Aliança, em colaboração com a administração do PESCaN e com apoio do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), iniciou a elaboração do Plano de Manejo Integrado do Fogo (PMIF) para o parque.


“A implantação de um modelo de Manejo Integrado do Fogo é trabalhoso e exige diálogo intenso. Ao contrário do que algumas pessoas imaginam, o Manejo Integrado do Fogo não diz respeito a uma ou outra técnica específica mas é, antes de tudo, ‘um modelo de planejamento e gestão que associa aspectos ecológicos, culturais, socioeconômicos e técnicos’”, diz Caroline Nóbrega, pesquisadora e diretora-geral da Aliança da Terra. “Um bom plano de manejo reconhece o contexto e considera os diferentes aspectos locais, buscando as estratégias mais seguras e eficientes para reduzir o impacto do fogo na paisagem”, acrescenta.


Para que o PMIF saia do papel, a Brigada Aliança conta com um time multidisciplinar. “Temos a parte operacional da Brigada, que é altamente capacitada, muito determinada e tem uma consciência de unidade muito forte”, comenta Isafas Balke, líder de Brigada e Oficial de Comunicação da Aliança da Terra. “E contamos com o time que está no escritório, em Goiânia, que faz todo o levantamento de dados, mapas hidrográficos, elevação, tipo de vegetação, número de focos de calor, cicatrizes e várias outras informações.”


Esse trabalho é desenvolvido durante todo o ano, para que nos períodos mais críticos – entre os meses de julho e outubro –, quando o clima é mais seco e os riscos de incêndio aumentam, qualquer ação de combate aconteça com muito mais agilidade e eficiência. “Enquanto não há fogo, realizamos a manutenção das trilhas para facilitar o acesso, fazemos os aceiros e conversamos com as pessoas das comunidades ao redor, sempre trabalhando com os conceitos da tecnologia social. Assim, quando chega a fase crítica, está tudo preparado”, diz Balke.


Riqueza ambiental

A afirmação de Balke sobre os impactos positivos do PMIF no PESCaN pode ser exemplificada, na questão ambiental, pela diversidade de flora e fauna. Há 311 espécies vegetais registradas no parque, muitas delas inclusive com valor etnobotânico, pois são utilizadas como alimento, medicamento, cosmético, utensílio doméstico e até decorativo e, dessa forma, preservam a tradição da região.


A lista de frutos, por exemplo, traz nomes como pequi, mangaba, araçá, abiu, ingá, cagaita, baru, mama-cadela, caju, araticum e buriti. Enquanto do lado das espécies medicinais encontram-se copaíba, chapéu de couro, pau santo, mutamba, arnica, canela de velho, sucupira, caparrosa e barbatimão.


Em relação à fauna, somente de espécies vertebradas são 353 catalogadas. Entre elas estão 189 de aves, 66 de mamíferos (10 delas ameaçadas de extinção), 44 de répteis, 41 de anfíbios e 13 espécies que ainda não tiveram seu nome científico estabelecido, de acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (SEMAD).


Além da atuação prática para assegurar a preservação do PESCaN, a Aliança da Terra ainda contribuiu com a difusão de conhecimento sobre o parque. A ONG foi responsável pelo projeto editorial da publicação “Pelas Trilhas do PESCaN – Descobrindo o Parque Estadual da Serra de Caldas Novas”, obra organizada por Flávia Ferreira Lima, professora da Universidade Federal de Goiás, e publicada pelo governo do estado.


Proteção contínua

O conhecimento prévio, a experiência de campo, os dados que vêm da base e a tecnologia social são fundamentais para o trabalho contínuo de prevenção ao fogo. Até porque há fatores que desafiam toda a estratégia de ação. Uma mudança na direção dos ventos, por exemplo, pode ser decisiva no aumento da dimensão de um incêndio. Embora a Brigada não tenha controle sobre os efeitos climáticos, definitivamente está preparada para lidar com cada situação. Desde que o trabalho seja desenvolvido durante o ano todo.


O líder da Brigada Aliança é categórico ao afirmar que nada disso acontece se não for realizado um trabalho de prevenção contínuo, permanente. Segundo ele, quando uma brigada de incêndio é mantida somente em um período do ano, é porque não houve compreensão sobre esse trabalho de prevenção. “Nesse caso, só se está pensando em apagar o fogo, e não em evitar que ele aconteça”, diz Balke.

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