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“Se eu puder ajudar a salvar as coisas, quero fazer isso”

Atualizado: 15 de abr. de 2022

Brigadista há doze anos, Luiz Martins acompanhou a criação da Brigada Aliança e conta como foi de alguém que evitava o fogo para alguém que vai de encontro a ele para salvar propriedades



O nascimento da Brigada Aliança, em 2009, foi um momento marcante para Luiz Junior da Silva Martins. Ele assistiu de perto ao grande incêndio que atingiu a várias fazendas na região do Araguaia, no Mato Grosso, e que levou um deles, o pecuarista John Carter, a investir na criação de uma força privada especializada no combate ao fogo nas propriedades rurais.


Ainda menino, Martins acompanhou o pai, vaqueiro que trabalhava para Carter, em algumas ações de enfrentamento de incêndio na década de 1990. Anos mais tarde, ele mesmo foi contratado pelo fazendeiro, para atuar no monitoramento de arrendamentos, realizando procedimentos de inseminação e outros serviços voltados para o gado. Até que o grande incidente com fogo causou destruição na fazenda.


Martins revela que, a princípio, foi resistente à ideia de participar de uma brigada de incêndio. “Eu pensava, mexer com fogo? Negativo. Não quero saber de fogo, quero saber é de ficar longe de fogo. Já tinha visto muita coisa feia onde a gente morava. É muito triste ver criações queimadas, pessoas perdendo suas casas. Mas depois que entrei na Brigada, parece que virei outra pessoa. Se eu puder ajudar a salvar as coisas, quero fazer isso”.

Hoje líder da base do Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco (PEAMP), em Goiás, Martins está na Brigada Aliança desde 2010. Ele explica que, há doze anos, a realidade era outra. Além dos recursos limitados, menos tecnológicos e um trabalho mais manual, com bomba e abafador, a equipe era de apenas quatro pessoas, formadas no primeiro curso, ministrado em 2009.


Com a entrada de Martins e de quatro novos integrantes no ano seguinte, o número de brigadistas duplicou e o trabalho se expandiu para uma segunda base, no assentamento Bordolândia em Bom Jesus do Araguaia (MT), da qual foi líder por cinco anos. Os cinco anos seguintes, ele passou em Barra do Garças, liderando a base no Parque Estadual da Serra Azul (MT).


O brigadista relata um acontecimento em 2015 que marcou sua trajetória. No assentamento Bordolândia, um casal de idosos estava sendo cercado pelo fogo sem perceber. Dentro da baixada onde estavam, nenhum deles avistou o perigo. “Eles ficaram surpresos quando chegamos para tirar eles de lá. O fogo já vinha lambendo a camionete quando tiramos os dois em segurança”.

Teoria e prática

A posição de liderança requer experiência e posicionamento. Há doze anos na Brigada, Martins comenta que, apesar de as equipes de novos brigadistas entrarem com boas noções de combate em decorrência do primeiro curso, o aprendizado é verdadeiramente construído a partir da prática.


“Muitos novatos ficam nervosos, têm dor de barriga, se apavoram. Como mais antigo, você tem que acalmar toda a equipe. Para quem nunca viu um incêndio, chegar perto é complicado”.


Martins explica que os combates são intensos ao ponto de, com alguma frequência, permanecerem vários dias em ação. “A Brigada evoluiu muito desde que entrei. Hoje a tecnologia é muito maior. Isso traz mais segurança para trabalhar porque temos muitos meios de ajuda. Desde drone e aparelhos com georreferenciamento por GPS por exemplo, para fazermos o reconhecimento da área até assopradores e outros equipamentos para o combate ao fogo”.


Mesmo em casa, o brigadista conta que o casamento acompanha a intensidade do trabalho. “Minha esposa chegou a trabalhar na brigada também, na mesma equipe que eu. Ela acompanhava as minhas transferências até que decidiu participar e passou recentemente para um trabalho no escritório da Aliança, por ter essa experiência em combate”.


Texto: Amanda Raíssa.

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