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Reforços a caminho

Atualizado: 11 de mar. de 2022

Brigada Aliança inicia temporada de treinamentos de novos combatentes e voluntários

Diretor geral e comandante da Brigada Aliança, Edimar Abreu conhece bem a importância de um bom treinamento. Desde que se juntou à Aliança da Terra, em 2004, e participou da criação da Brigada Aliança, em 2009, ele perdeu as contas de quantas horas dedicou a aprender – e depois ensinar – a teoria e a prática do combate a incêndios florestais. No seu currículo estão certificados inclusive do Serviço Florestal Americano (USFS), que mantém algumas das mais especializadas equipes nessa área em todo o mundo. “Foi um desafio muito grande. Eu saí do interior de fazenda para um mundo totalmente oposto à minha realidade, mas isso me fez crescer muito em nível de conhecimento”, afirma Edimar.


Nesta época do ano, o comandante se transforma em instrutor. Antes de chegar a temporada seca nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal – que se espalha de julho a outubro – os líderes da Brigada Aliança, Edimar à frente, dedicam-se a formar novos brigadistas e a treinar equipes de voluntários nas suas regiões de atuação. “Temos um rol de treinamentos marcados a partir de 18 de março, para Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Temos bases nos extremos dos estados. Uma em Goiás é divisa com a Bahia e outra, no Mato Grosso, é divisa com Rondônia. Ano passado fiz 40mil km em dois meses. É uma loucura”, diz.


Além da atuação em combate, os treinamentos trazem importantes informações para a prevenção em áreas de conservação e em fazendas, através da identificação de fatores de risco para o início e a propagação do fogo e a adoção de medidas para evitá-los.


A cooperação da Brigada Aliança com o USFS tem sido permanente desde 2009. Inicialmente, os instrutores americanos que conduziam os treinamentos da Brigada Aliança mantiveram uma frequência de cinco anos consecutivos no Brasil. Em 2013, Edimar passou dez dias de treinamento nas bases do Serviço Florestal Americano, em Boise, Idaho, conhecendo as bases, instalações, e até o trabalho dos smokejumpers, que pulam de paraquedas em regiões próximas aos incêndios. “Todo ano eles davam treinamento. Até o dia que disseram que eu estava apto a ser instrutor, que não dependíamos mais deles e já podíamos nos virar sozinhos”.


Hoje, Edimar comanda 12 bases da Brigada Aliança e é o instrutor da maior parte dos treinamentos. “A seleção de brigadistas para trabalhar conosco deve ser rígida. É necessário um preparo físico e psicológico para o dia a dia das ações”, explica.


O perfil de interessados varia. O comandante comenta que, no ano passado, ingressaram doze jovens. Para alguns deles, a Brigada Aliança foi o primeiro emprego. Assim como no USFS, na Brigada o comando parte de quem tem mais experiência como brigadista. Só assume a liderança de uma equipe alguém que já esteja há pelo menos dois anos desempenhando um bom trabalho.

Edimar (de blusa amarela) em treinamento organizado pelo USFS


“Entrar na Brigada Aliança significa começar sentado no banco, com treinamento básico. É a partir da desenvoltura durante anos combatendo que o nível dentro da instituição vai subindo até se tornar um líder. Tem que ter muito conhecimento para assumir esse cargo”, afirma Edimar.


Existem diferentes modelos de treinamento. O padrão básico, aplicado aos interessados em ingressar na Brigada, consiste em noções de segurança, técnicas e tática para entrar no combate. É realizada uma avaliação escrita e um TAF (Teste de Aptidão Física).

A média do conhecimento teórico com exercícios simulados e dinâmicas de ensino com o TAF determina a classificação. Edimar explica que os treinamentos são realizados com, no máximo, trinta pessoas. Acima disso, são divididas duas turmas.

TREINAMENTO NAS FAZENDAS


Outro tipo de treinamento realizado pelo diretor é o preparo para liderança, voltado para brigadistas que já estão na ativa há pelo menos dois anos. Os líderes de cada base identificam perfis de liderança dentro da equipe, a partir da desenvoltura individual dentro da brigada, e é realizado o treinamento.


Há ainda treinamentos de capacitação para os funcionários que vivem o cotidiano de uma propriedade. Dessa forma, em caso de uma ocorrência, eles terão o conhecimento necessário para dar uma primeira resposta ao incêndio. O combate mais árduo, entretanto, deve ser feito sob a liderança de um brigadista capacitado.


Em 2019, houve casos de morte de pessoas em combate a incêndios florestais no Brasil. Nesse contexto, foi concedida uma liminar que determinou que só podem auxiliar no combate ao incêndio pessoas que tenham passado por pelo menos um treinamento básico.


Segundo o comandante Edimar, a Brigada Aliança já treinou mais de mil voluntários. Houve um aumento de demanda por essa qualificação, já que muitas fazendas estão buscando se adequar às normas. Segundo ele, o treinamento é muito necessário porque, por mais que o trabalho diário da fazenda seja categorizado e dividido por setores, não costuma haver um protocolo de hierarquia ou cadeia de comando para incidentes com fogo.

Brigada Aliança faz treinamento com indígenas Kamayurás


Edimar explica que o ideal para as propriedades é que todos os trabalhadores estejam nos treinamentos e que, em algumas fazendas, até os donos se incluem no processo de aprendizagem. Há gestores, porém, que não participam. “Isso dificulta porque, no fim das contas, quem faz a tomada de decisão na hora do incidente é o gerente. Quem está abaixo, que tem a noção do treinamento, fica com medo de tomar a atitude ou ir contra um comando que já foi dado. O ideal para que os treinamentos sejam eficazes é que todos participem, especialmente aqueles que ocupam cargos de chefia e tomam as decisões”.


Após o treinamento, é emitido um certificado de participação, garantindo aptidão para a atuação em combate. O número de treinamentos varia de acordo com cada ano. Em 2021, foram mais de dez. Para este ano, já há quatro treinamentos marcados em Goiás, mas também há intenção de realizar dois treinamentos em cada base no Pantanal. Atualmente, são cinco, localizadas em Anastácio, Poconé, Pedra Preta, Araputanga e Cárceres.


A perspectiva de Edimar para este ano é aumentar o número de bases. De doze, o diretor revela que gostaria que chegassem a dezesseis. Além disso, devem ser admitidos de oito a dez novos brigadistas, que passarão pela criteriosa seleção de treinamento.


Texto: Amanda Raíssa.



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