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As chuvas chegaram, mas o fogo não apagou

Com fim da temporada de incêndios, é hora de planejar e contratar a Brigada Aliança para o combate ao fogo em 2022




As lembranças dos grandes incêndios desta temporada do fogo ainda queimam em nossas memórias. As imagens de matas, pastagens e lavouras sendo queimadas no Pantanal ou das copas de buritis com mais de 30 anos acesas com chamas no Parque Estadual de Terra Ronca, no Cerrado goiano, são inesquecíveis. Alguns combates, como no Parque Estadual dos Pireneus (GO), chegaram a durar duas semanas, reunindo até 30 brigadistas, bombeiros e voluntários de diferentes organizações.


A chegada das chuvas aos principais biomas brasileiros significa uma trégua na luta contra o fogo. E indica que é hora de se planejar para o próximo ano. Se praticamente não há mais chamas a serem apagadas, existe a certeza de que, em 2022, o fogo voltará. E estar preparado quando isso acontecer pode evitar grandes prejuízos, seja à fauna e à flora das matas nativas, seja aos negócios rurais.


Por esse motivo, produtores rurais e empresas que pretendem contratar serviços de brigadas para atuarem em suas regiões não devem esperar para agir. Na Brigada Aliança, maior iniciativa não governamental voltada para a prevenção e combate a incêndios florestais do Brasil, as conversas com grupos interessados em formar equipes de brigadistas com vistas à temporada seca de 2022 já começaram. Este ano, a Brigada Aliança manteve 12 equipes em ação. Para o próximo, deve chegar a um máximo de 20.



Brigada Aliança no Parque Estadual de Terra Ronca (GO)


Agrobrigadas


“Este é o momento em que abrimos a possibilidade de contratação de novas brigadas para o próximo ano”, afirma a gerente-geral da Aliança da Terra, Caroline Nóbrega. A organização criou a Brigada Aliança em 2009 para ajudar produtores rurais a enfrentarem os recorrentes incêndios que traziam prejuízos ambientais e econômicos a suas propriedades.


Desde 2019 a entidade oferece o modelo de Agrobrigadas, que podem ser contratadas por grupos de produtores ou por empresas. Através de parcerias públicas e/ou privadas, a Brigada Aliança monta equipes altamente especializadas, que atuam em regiões específicas, com alta probabilidade de incêndios. Para sua atuação plena, é preciso tempo. O processo se inicia com a formação das equipes, com seleção e treinamento dos brigadistas. E, bem antes do primeiro incêndio, eles começam o trabalho de engajamento e adequação de propriedades, que garantem mais segurança e evitam prejuízos.


“O ano de 2021 foi um ano muito bom para a maior parte do estado do Mato Grosso, nos últimos 10 anos, foi um dos anos com menos focos de calor registrados. Em relação à 2020, tivemos uma redução de 58% nos focos de calor do estado. Mas nos municípios com bases da Brigada no Pantanal, essa redução foi ainda maior, em média, houve uma redução de 80% no número de focos de calor em relação ao mesmo período no ano anterior”, explica.


A limitação em um máximo de 20 brigadas em 2022 deve-se à complexidade na montagem desses times. “Não se forma um líder de brigada de um ano para o outro”, exemplifica Caroline. Profissional mais experiente do grupo, ele deve ter grande experiência no combate a incêndios florestais e comando de equipes. Os brigadistas da Aliança são treinados com apoio dos Smokejumpers, esquadrão de elite dos combatentes do Serviço Florestal Americano (USFS) e seguem uma metodologia específica, desenvolvida e coordenada por mais de dez anos por uma equipe que envolve doutores e mestres especializados no estyudo do comportamento do fogo. Além disso, são equipadas com tecnologia de ponta para a detecção e combate dos incêndios.


Cada equipe é formada por um líder e quatro brigadistas e consegue atender, em média, 400 mil hectares, limitados a um total de 20 propriedades rurais. Além disso, a brigada realiza o treinamento de até três funcionários por propriedade, totalizando 60 funcionários voluntários. “Os funcionários das fazendas são treinados para evitarem possíveis fontes de ignição e, principalmente, para que estejam habilitados a darem a primeira resposta a um princípio de incêndio”, diz Caroline.


Treinamento de novos brigadistas: apoio da elite do Serviço Florestal Americano


Ação e resultados


Em 2021, a Brigada Aliança operou com 64 brigadistas, divididos nas 12 bases distribuídas em três diferentes biomas: Pantanal, Cerrado e Amazônia. No Pantanal, as cinco equipes foram contratadas pela JBS/Friboi e cobriram uma área superior a 2 milhões de hectares. Em Goiás, outras cinco equipes foram financiadas por empresas, a partir de acordos com a Secertaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento (Semad-GO). No Mato Grosso, duas brigadas atuaram junto a produtores que fazem parte do Programa REM MT, iniciativa do governo estadual em parceria com instituições da Alemanha e da Inglaterra.


A presença das Agrobrigadas nessas regiões teve impacto positivo, mesmo em um ano de estiagem severa e enormes desafios relacionados ao fogo. “Nos cinco municípios que contaram com bases da Brigada no Pantanal, por exemplo, houve uma redução de 80% no número de focos de calor em relação ao mesmo período no ano anterior”, afirma Caroline. Neles, além do combate, a Brigada Aliança organiza, com uma metodologia própria, um verdadeiro movimento contra o fogo, engajando produtores, trabalhadores, empresas e a população local a contribuirem com o trabalho das suas equipes, principalmente com medidas preventivas e alertas logo que identifiquem o início de um incêndio.


A eficácia do trabalho das Agrobrigadas em campo é cientificamente comprovada. Estudo produzido pela equipe liderada pela geóloga Aline Silva de Oliveira, doutora em Meteorologia do Fogo, e coordenado pelo professor Britaldo Soares Filho, do Centro de Sensoriamento Remoto (CSR) da Universidade Federal de Minas Gerais, mostra uma redução média de 50% na área queimada nas propriedades privadas participantes da Plataforma Produzindo Certo, que inclui ações preventivas em parceria com a Brigada Aliança. O estudo foi publicado no jornal acadêmico “Forest Policy and Economics. Danos à produtividade podem ser evitados


O programa das agrobrigadas pode ser adquirido por um grupo de produtores rurais, o que lhes permite ratear os custos e colher os benefícios em conjunto. O custo-benefício da prevenção é positivo, já que as consequências de um incêndio em terras produtivas podem custar caro ao proprietário. Segundo dados da Aprosoja, quando há incêndios em uma área destinada a lavoura de soja e milho, perde-se a palhada e muitos dos nutrientes do solo, muitas vezes fruto de anos de investimento. Isso pode resultar em um prazo de 3 a 5 anos para que a fertilidade se recupere a fertilidade. A restauração do perfil do solo pode custar de R$ 4 mil a R$ 5 mil por hectare.


A Aprosoja estima que, no ano seguinte ao fogo, a perda de produtividade seja seginificativa: 10 sacas/ha no caso da soja e 5 sacas/ha para o milho. Além disso, maquinários, cercas, estruturas de logísticas e outros danos materiais podem custar ao produtor rural anos de desenvolvimento e crescimento.


O monitoramento diário de focos de calor da agrobrigada via imagens de satélite e via terrestre das propriedades cadastradas pode evitar maiores dores de cabeça ao produtor rural. “As ações de prevenção devem ser planejadas e executadas antes do período de queimadas. O planejamento do plantio, a rotação do gado nos pastos da propriedade e a abertura de aceiros são ações simples e que possuem um grande impacto na redução ao risco de incêndios”, afirma Caroline.

Experiência e pioneirismo


Em mais de 10 anos, a Brigada Aliança conta com mais de 133.000 horas-homem em combate direto, 940 pessoas treinadas e 498 incêndios combatidos. “A Brigada Aliança demonstra como o treinamento, a liderança local e os recursos bem administrados e aplicados podem ter um impacto positivo no meio ambiente e na sociedade, onde outros esforços não alcançam ou literalmente se transformam em fumaça”, comenta Jayleen Vera, coordenadora do programa do USFS.


“Teve um certo ponto em que o USFS ensinava e guiava a Brigada. Agora, eu sinto que é o oposto. Após lidarem tanto com as situações de incêndio, terem trabalhado tanto para adaptar e aprender com as condições locais, aperfeiçoando a maneira de trabalhar com diferentes situações, somos nós quem aprendemos com a Brigada Aliança. Falo disso com orgulho”, conta Jayleen.



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