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Foto do escritorDaiany Andrade

As lições da Brigada Aliança na prevenção e combate ao fogo em Goiás para o Brasil

Área queimada em parques estaduais goianos caiu de forma expressiva em três anos de atuação da Brigada Aliança


Uma das equipes da Brigada Aliança em ação

Entre os dias 22 e 25 de agosto, uma onda de incêndios se alastrou pelo interior do estado de São Paulo. Foram queimados mais de 34 mil hectares em 14 regiões. O fogo provocou mortes, acidentes, bloqueio total ou parcial de rodovias, restrições em aeroportos, lotação em hospitais, além de deixar feridos e desabrigados.


Para diversas áreas da Amazônia, Pantanal e Cerrado, o ano de 2024 também tem sido de  recordes em termos de área queimada e registros de focos de calor.


Para quem acompanha de longe, a situação parece fora de controle, como se nenhuma ação fosse capaz de impedir a ocorrência e a voracidade do fogo. A boa notícia é que há exemplos bem-sucedidos do trabalho de prevenção, monitoramento e combate ao fogo mesmo no período mais crítico para a ocorrência dos incêndios florestais.


“Em Goiás, num dia em que o país estava queimando e a gente tinha fumaça cobrindo grandes cidades, fechando aeroportos, nenhum parque estadual, monitorado pela Brigada Aliança, estava queimando. Porque nós temos equipes ali qualificadas atuando. Então, podemos afirmar que sim, existe solução”, disse a diretora geral da ONG Aliança da Terra, Caroline Nóbrega, em referência ao trabalho da Brigada Aliança.


“A gente teve várias pequenas ocorrências, as vezes fora dos parques, outras dentro, mas como a resposta da equipe é muito rápida e qualificada, esse fogo não evolui”, completou ela.  

 

Criada em 2009, a Brigada Aliança reúne experientes guerreiros do fogo, equipados e preparados com apoio da elite do Serviço Florestal dos Estados Unidos (USFS), e atua no combate a incêndios em áreas rurais e florestais.


A estação do fogo


Agosto, setembro e outubro são os meses mais críticos para o combate aos incêndios florestais na maior parte do Brasil

Historicamente, os meses de agosto e setembro são os mais críticos para o combate aos incêndios florestais na maior parte do Brasil. A estação seca aliada à baixa umidade do ar e aos ventos fortes, que são registrados durante esses meses, favorecem a propagação do fogo.


Foi exatamente essa combinação que contribuiu para o cenário de horror que os moradores de vários municípios paulistas viveram. Em apenas três dias, o estado registrou mais de 2.300 focos de incêndios.


Apesar das condições meteorológicas adversas, investigações preliminares também indicam que houve ação humana por trás do fogo. Pelo menos seis pessoas foram presas e a Polícia Federal abriu dois inquéritos para investigar a suspeita de ação criminosa nos incêndios.


“Sabemos que o fogo criminoso é uma realidade, mas não podemos generalizar. Em muitas situações a gente não vai encontrar quem colocou fogo, porque às vezes a origem do fogo é de uma rede elétrica, é do superaquecimento de uma máquina agrícola ou de uma pessoa que foi acampar e fez uma fogueira no meio da mata. Não necessariamente esse fogo é criminoso ou mesmo intencional.”, explicou Caroline Nóbrega.


Vale destacar que o cenário enfrentado pelo estado de São Paulo não está isolado. De acordo com o Banco de Dados de Queimadas (BDQueimadas), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgados recentemente em reportagem do Agro Estadão, de janeiro até a primeira quinzena de agosto, o Brasil registrou quase 83 mil focos de queimadas. Alta de 42,3% em comparação com igual período de 2023.


Outro dado alarmante, é que a Amazônia, bioma que lidera em número de focos no país, teve 2,5 milhões de hectares consumidos pelo fogo, em agosto, de acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa-UFRJ). A média histórica para a área afetada no mês é 1,4 milhão de hectares. 


O exemplo da Brigada Aliança


Desde 2021, a Brigada Aliança opera com equipes fixas na prevenção, controle e combate aos incêndios florestais em treze Unidades de Conservação de Goiás, em uma parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SEMAD).


De lá para cá, foram alcançados avanços significativos na preservação ambiental da região. Experiente, altamente treinada e equipada, a Brigada conseguiu conter e extinguir diversos focos de incêndio, reduzindo consideravelmente a área queimada e protegendo a biodiversidade dos parques.


Vale destacar que os resultados alcançados pela Brigada estão diretamente vinculados ao novo modelo de gestão governamental adotado localmente.


Dados da Aliança da Terra, apontam que nos últimos três anos de atuação, foi registrada uma redução de área queimada entre 44% e 98% para a maior parte dos parques goianos.


“Obviamente, existem áreas em que os resultados são melhores que em outras. A gestão do fogo precisa ser adaptativa, sempre com base em dados e evidências científicas, sempre em aprimoramento”, disse a diretora geral.


Resultados similares foram obtidos pela Brigada Aliança durante os anos de 2021 e 2022, quando atuou em uma área de 9 milhões de hectares no Pantanal.


Ações de prevenção, monitoramento intensivo e combates rápidos e qualificados foram realizados em 177 fazendas. Nessas fazendas, a redução de área queimada foi superior a 97% se comparado ao período anterior à chegada da Brigada Aliança.


“A presença de brigadas equipadas e bem treinadas, não levará o risco a zero. Áreas queimadas ainda continuarão a ser registradas, algum risco, assim como o fogo criminoso, continuará a existir”, reforçou Caroline.  


Entretanto, a experiência da Brigada Aliança demonstra que a presença de equipes, bem como a implementação de ações de prevenção (ex. abertura de aceiros em locais estratégicos, com redução do material combustível) antes do período crítico, reduz as chances do fogo acontecer. E quando o fogo tem início, a resposta rápida e qualificada minimiza a área atingida e os danos causados.


A solução depende de capacitação e prevenção  


A Brigada Aliança é experiente, altamente treinada e equipada

O trabalho da Brigada tem sido fundamental para a prevenção de novos incêndios nas regiões em que atua, promovendo a conscientização das comunidades ao redor sobre práticas sustentáveis e a importância da preservação dos ecossistemas.


Esses esforços colaboraram para a manutenção da integridade das Unidades de Conservação e fazendas, assegurando a preservação dos recursos naturais e da vida selvagem da região.


Resultados como esses mostram a importância da valorização de iniciativas como a Brigada Aliança, além de reforçar a necessidade de se ter organizações experientes e preparadas à frente dos grandes desafios ambientais, econômicos e sociais impostos pelo fogo em todo Brasil.


Os incêndios que devastaram mais de 34 mil hectares em São Paulo, entre áreas de vegetação e lavouras, ressaltam a gravidade e a frequência crescente das queimadas em todo o país, evidenciando a necessidade de ações coordenadas e especializadas para prevenir e combater o fogo.


A experiência e a eficácia no controle de incêndios nas Unidades de Conservação de Goiás e fazendas do Pantanal são exemplos de boas práticas que poderiam ser replicadas em outras regiões e comprovam como estratégias de combate ao fogo, quando bem implementadas, podem fazer a diferença na preservação de ecossistemas em todo o Brasil, independentemente da localização específica.


“A gente precisa lidar com essas tragédias com prevenção, com preparação, preparação de equipe, preparação de estruturas de resposta rápida e eficiente”, reforçou Nóbrega.


“E a gente tem soluções. Mas essa solução precisa passar necessariamente por prevenção e por equipes qualificadas. E eu não estou falando só a equipe da Brigada Aliança qualificada. Mas brigadas nas fazendas, a gente precisa de funcionários treinados, funcionários prontos para uma resposta”, concluiu ela.

 

 

 

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